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Foto: Mariana de Carvalho. Oxford, Abril 2010

Oscar Wilde

Oscar Wilde de Hoje (e Sempre)

"a man who moralizes is usually a hypocrite, and a woman who moralizes is invariably plain"

domingo, 24 de fevereiro de 2013

O valor que um inimigo tem

Diz um ditado que “os amigos não se escolhe, mas os inimigos, sim”. 

Confesso que tenho dificuldade em concordar. É verdade que não se escolhe quem vai gostar de você; no entanto, manter e cultivar uma amizade depende de esforço e dedicação, e assim de certa forma você escolhe seus amigos. No outro lado do ditado, estou de acordo que se pode escolher quem não vai gostar de você. Por exemplo,  quando se atinge alguém com uma traição, uma deslealdade, ou até envergonhando a pessoa na frente dos outros - arranjar inimigos é fácil assim.

Mas muitas vezes não se fez nada, e você está com a mulher que os dotes dele não permitiram que amasse ou você está na posição que a competência dele não deixou que atingisse.

Nestes casos você realmente não escolheu seu inimigo: foi ele que escolheu a você. Mas ainda sim se pode optar, pois se ele resolveu que é seu inimigo, você não é obrigado a ser desafeto dele e retribuir a inimizade. Isto por que sempre é possível ser indiferente à hostilidade  de outrem. Afinal, se no amor as mulheres conseguem ser indiferentes às paixões que despertam, por que no ódio não poderia ser igual?

Ao final, a escolha vale para amigos e inimigos, e a verdade é que muito do valor de um homem se reconhece pela qualidade dos inimigos que tem. Por isso, quando penso no quilate de certos tipos que atravessaram minha vida, vejo que tê-los considerado meus desafetos teria me rebaixado como pessoa.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

De canalhas

São os canalhas pelos quais elas se sentem irresistivelmente atraídas. São os canalhas que falam mal do colega para serem promovidos, que passam a perna no irmão, que comem a mulher do amigo e ainda saem para beber com o corno, que não pagam o empréstimo e cumprimentam o otário na rua, são os canalhas que traem a mulher grávida de nove meses. E ainda botam a cabeça no travesseiro e dormem. Só os canalhas são felizes.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Pontos de Vista


O que ela quer comigo, afinal? Está me deixando louco, ela
Será que ele vai reparar no meu novo corte de cabelo? Faço
implica comigo o tempo inteiro, tudo o que eu faço
de tudo para mostrar que ele chama minha atenção, reparo
ela comenta, desde a cor do meu guarda-chuva até
nos mínimos detalhes da roupa e até no tom de voz, ai, ele é muito
se falo alto no telefone, eu me sinto perseguido, julgado, como
atraente, não consigo tirar os olhos dele, não resisto e falo algo.
se parece com minha mãe que me vigiava e controlava e
Ele tem um jeito meio largado que mexe com meu instinto materno,
criticava e não me deixava nem respirar. E isto até meus vinte e poucos, e minha mãe
apesar de ser um quarentão, mas os homens são eternas crianças, né?
demorou para perceber que eu já tinha crescido e era um adulto e
E esse Roberto é do tipo macho arrogante e por isso eu tenho
não precisava de ninguém me mandando, demorou muito para me libertar
de baixar a bola dele toda hora, sou mais velha e
dela, parecia mãe judia, cruz credo, sempre me colocando defeito.
tenho de ser firme, para deixar do jeito que
Parece que faz isso para o filho ficar dependente o resto da vida...
eu gosto, homem não tem jeito, tem que melhorar sempre.
Que raiva da Vladimira, só comigo acontece de ter uma colega sem sal desse jeito!
Mas o mais importante é que ele repara em mim, pois toda vez que
E ainda por cima faz cada pergunta idiota, não sei por que ainda respondo, é
faço uma perguntinha bobinha para chamar a atenção, eu percebo
esta educação que não me deixa ser grosseiro, respiro fundo e com ódio
que mexo com ele, meu charme é fatal, e que homem gentilíssimo,
mas respondo, já que é muita falta de educação deixar pergunta sem resposta
claro que é gentil assim por que está interessado em mim, pois se sabe
só que acabo de responder e percebo que mais uma vez fui um imbecil, alimentando
que homem hoje em dia só é educado quando quer algo.
esta mania de implicância dela, um dia eu a mando calar essa boca
Eu percebo que ele quer dizer algo mais e sempre se controla, só que
mas se eu faço isso eu vou perder o emprego, caramba, ela é amiga do chefe.
um dia eu o faço perder a cabeça e ele vai se declarar para mim.

domingo, 2 de dezembro de 2012

De domingos e urubus

Apesar do nome nobre, Dia do Senhor, o Domingo não é um dia que as pessoas especialmente gostam, já que é a véspera da segunda-feira (ou “lues”, como se dizia em português antigo...), e que por sua vez é sem dúvida o dia mais odiado da semana em línguas antigas ou modernas. Mas neste domingo o dia estava tão luminosamente especial, com aquela luz que lembra a primavera na Toscana, que até vi dois urubus, aves que soem ser sisudas, brincando nos céus como periquitos.

Ou será que acordei tão bem que estou achando que urubu é meu lôro?

domingo, 21 de outubro de 2012

Palavra Fatal

"Fatal" é o adjetivo de “fado”, que vem do latim fari (profetizar, pronunciar, falar). "Fado" quer dizer “destino”, “sorte”, e portanto não é só um tipo de música que a Amália Rodrigues cantava.

Mas em português "fatal" virou sinônimo de "mortal", o que simploriamente constata o fato de que a morte é o fado de todos nós. Constatação com a qual estamos todos de acordo, com exceção talvez de uma moça bonita que uma vez me disse que os “homens morriam mais do que as mulheres”.

 Chamar de “fatal” somente o que está relacionado à morte tira as muitas possibilidades da palavra e restringe o alcance de nosso pensar. Mas algumas correlatas resistem, como “fatalismo”, que ainda mantém a amplitude de “destino”. E veja que em italiano "fatídico" é algo “inelutável”, mas não necessariamente “mortal”.

 Penso que esta limitação é reveladora de certo derrotismo português que herdamos, e que é tão importante para a alma lusa que define até a sua música nacional.


domingo, 19 de agosto de 2012

Resenha de "Match Point"

Match Point é tentativa bem sucedida de Woody Allen de fazer drama. Não é comédia e não é leve e superficial como os filmes típicos de sua nova fase. Nesta película ele acerta em cheio um filme denso, elegante e com uma proposta filosófica sofisticada. Ao mesmo tempo, o cineasta preferido de dez entre dez pseudointelectuais mostrou que não precisa arremedar Bergman (ele chegou a ter o diretor de arte do sueco em Setembro) para ser profundo. E justiça seja feita, desta vez ele consumou uma obra madura, compreensível e por que não, excelente.

O primeiro feito pelo diretor na Inglaterra, este filme parece apenas mais uma história de falta de escrúpulos e alpinismo social. O roteiro é simples: em Londres, professor de tênis irlandês de origem humilde (Chris) ascende socialmente por meio do afeto de uma milionária inglesa sensaborrona (Chloe), arranja uma amante americana quente (Nola), e ao engravidar esta última, resolve a “questão” com um crime perfeito. So far so good. Uma história muito bem contada, mas também uma reflexão sobre a sorte, a culpa e o destino.

Já na abertura, uma voz em off declara que grande parte da nossa vida é definida pela sorte - e o quanto isto é amendrontador. Evidente e didático: vamos assistir a uma fábula sobre o papel da sorte em nosso destino.

Sorte, veja bem, e não ordem: não há lei superior a organizar nossas vidas, e nosso mundo social é tal como a natureza, segundo Niestzsche propôs: uma entidade sem moral, nem boa nem má, e que apenas existe. E o acaso talvez seja o mais difícil para o ser humano lidar, já que o mundo precisa fazer algum sentido para conseguirmos levar a nossa própria existência - o suicídio de índios desenraizados é uma infeliz prova antropológica do oposto. E é um desafio para o cérebro humano, condicionado a ver padrões, regularidades, leis e sentidos, ter de considerar que a sorte pode ser mais importante do que talento, Deus, ou até o dinheiro, para se conseguir a felicidade.

Mas o filme, formidável, não trata somente disso: suspeita-se disso na cena na qual o protagonista lê Crime e Castigo de Dostoiévski, um livro que fala não de acaso, mas de erro, culpa e punição. Como a cena não contribui para a trama, ela pode ser tomada como uma advertência, como se o diretor dissesse: “preste atenção nas entrelinhas, pois não é só de acaso que eu vou tratar”.

E é isso mesmo. A narrativa discorre banal  e um pouco arrastada, ainda que bem conduzida, até seus exatos 108 minutos, quando um crime acontece. A partir daí o filme repete elementos do livro do russo: dois assassinatos, o sofrimento na culpa, o detetive que sabe o criminoso e um inocente incriminado.

Mas tanto Dostoiévski o autor quanto Raskolnikov o protagonista são profundamente religiosos, e por esta razão este último se entrega à justiça ao final do livro, já que ele sente culpa, sabe que errou e que o Mal deve ser punido. Já Chris não é nenhum Raskolnikov e enquanto este vai buscar sua absolvição cumprindo pena na Sibéria, Chris até se sente culpado, mas se habitua e acaba por constatar que “tudo passa”.  E escapa várias vezes de ser preso, por “golpes de sorte”.

Na verdade, os grandes temas do livro estão condensados nos 15 minutos finais, e toda a filosofia do filme está sintetizada na cena em que Chris sonha com suas vítimas: arrasado pela culpa, ele diz que gostaria que houvesse justiça para o que ele fez, e assim ter alguma esperança de sentido na vida. No entanto, isto é um sonho compensatório, pois ele leva uma vida confortável e sem punição, mas também sem sentido e ao lado de quem não ama. Diferente de Raskolnikov, que se submete a uma vida duríssima na Sibéria para dar sentido à própria vida e ao lado de quem ama, pois sua noiva o acompanha.

Aí chegamos à “moral” do filme: não existe justiça divina nem muito menos humana, os maus não são punidos e tudo é aleatório. Por isso somos eternamente vítimas do acaso e a vida não tem sentido. É ou não é um grande filme?

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Santíssima Trindade Musical

O que no Rio se chama de inverno é um momento chuvoso, suave e tranquilo. E que por estas qualidades é uma estação que convida à reflexão e à introspecção, algo impossível no verão com seus céus opulentos de sol e seu calor de umidade opressiva.
 
E nesta chuva fresca eu gosto de ficar em casa ouvindo tango e tomando mate, pois para mim os três são elementos que entram em harmonia; chuva, mate e Piazzolla.

Ouvindo o Concierto para Quinteto e embalado pelos alcalóides estimulantes da erva-mate, tenho uma sensação mística de enlevamento espiritual. Percebo então que esta é uma das músicas que têm a capacidade de transcender nossa materialidade e ir além e acima deste concreto sensível em que vivemos.

Suspenso por estas sensações imagino diante de mim uma Santíssima Trindade Musical, e coloco esta música junto às outras que me provocam este contato com o transcendente: o primeiro movimento do Concerto de Brandenburgo no. 02 de J. S. Bach e a Ode à Alegria da 9a. Sinfonia de Beethoven.

Se eu tivesse em busca de manifestações da grandeza de D´us, qualquer destas músicas seria um bom começo.

domingo, 29 de julho de 2012

Budismo Nichiren para fotógrafos


é possível, sendo mente e corpo a mesma coisa, e a natureza o retrato do espiritual, como a APARÊNCIA é o retrato do MATERIAL, que a ENTIDADE, síntese de ambos, permita que as virtudes universais se manifestem como imagem da natureza e da aparência exterior. se somos todos uma coisa só, e a verdade da NÃO SUBSTANCIALIDADE revela que os fenômenos são e não são, podemos perceber a abstração com nossos sentidos e portanto ver as características humanas no não humano. portanto, é possível fotografar virtudes humanas como gratidão, tolerância e coragem.

domingo, 22 de julho de 2012

Dia e Noite

O dia é o concreto, o útil. E o prático

A noite é o abstrato, o fútil. E o poético

O dia é onde fazemos, a noite é onde sonhamos

(Não à toa, a noite é o momento dos amantes)

O dia é banal e a noite é misteriosa

*****

A noite nos traz a intuição da eternidade